Capítulo 35
1168palavras
2023-03-23 21:37
Quando se separaram do abraço, Bianca pediu pra trazer o jantar pro quarto dela e falou pra Gustavo que tinha mais um monte de fotos daquelas.
Entregou vários álbuns pra ele, desde quando Gabriel estava internado ao nascer até o mês anterior. A mãe todos os dias mandava fotos pra ela e ela mandava revelar uma vez por mês.
Enquanto jantavam, contou várias coisas pra ele. Da personalidade do filho, das gracinhas, dos dentes nascendo.

- Sabe uma coisa que acho engraçada? Quando você voltou, parecia me odiar. Mesmo assim, deu a nosso filho o nome que escolhi.
Bianca se lembrou de várias conversas que tiveram sobre filhos, e ele sempre dizia que gostaria de ter um menino e chama-lo Gabriel. Ela pouco dava importância, pois nunca achava que fosse o momento pra dizer a ele que não gostaria de ser mãe.
- Eu nunca quis ser mãe, mas entendia o quanto era importante pra você ser pai.
- Porque você nunca me falou?
- Tinha medo de te perder. Mas agradecia aos céus pela Aisha.
- E agora?

- Sinceramente? Amo o Gabriel, mas ainda não quero ser mãe. Quando ele veio pra casa, minha mãe quem cuidava, eu não tinha ânimo. Não sei reconhecer choro e não sou essa mãezona que todo mundo fala que a mulher vira quando a criança nasce. Sinto falta dele comigo, mas não tenho aquele negócio de cuidar, leoa, nada disso.
- E como vai ser quando ele chegar?
- Não sei, mas acredito que não vai mudar muita coisa. Minha mãe vai cuidar, educar, dar bronca e eu vou dar o primeiro cigarro de maconha. Estou brincando - Bianca completou quando viu o sangue fugir do rosto dele.
- Tipo de brincadeira que não se faz, você sabe como tenho problemas com isso. Mas falando bem sério, e como vai ser comigo?

- Deixa o Gabriel chegar, ver como ele se sai com você e depois conversamos, tudo bem?
-Tudo sim. Vou embora. Amanhã temos que pegar no batente cedo e esticar se quisermos dar conta de tudo. Somos apenas nós dois contra o mundo, já que o Fabrício pediu pra gente falar para o mínimo de pessoas possível.
- Posso te pedir uma coisa?
- Sempre, Bianca.
- Dorme comigo.
- Não. Isso você não pode me pedir. Da última vez você disse que seria só sëxo se eu quisesse. E eu nunca quis só sëxo com você. E eu consegui desapegar de correr atrás de você feito um cachorro. Com o Gabriel então, que nos deixou quites, não tenho a menor intenção de rastejar atrás de você de novo.
- Não pedi para você transar comigo. Só para dormir.
Gustavo concordou, ela trouxe um pijama, deu uma escova de dentes nova pra ele e ele se deitou na cama dela, colocando o relógio para despertar mais cedo do que o habitual para passar em casa e se trocar antes do trabalho.
Quando ela deitou ele esticou o braço e a colocou deitada no peito dele e ficou fazendo carinho em seus cabelos, como sonhou tantas vezes nos últimos anos. Decidiu não correr mais atrás dela, mas aquilo não era fácil pra ele. Ter ali em seu peito, a mulher que amava e desejava mais que tudo na vida. E não poder tocar como queria...
Era uma tortura pra ele. Entendia que a feriu e por isso ela o feriu. E que deixá-la seguir seus caminhos e ser feliz com outro homem seria o melhor a fazer, pelos dois e por Gabriel. O filho que ele já amava sem nem conhecer.
Fez uma nota mental de conseguir recusar esse tipo de contato com Bianca no futuro, pelo bem de sua sanidade.
Já Bianca, estava se controlando para não chorar. Não entendia como estava tão emotiva ultimamente. Se tivesse um útero, poderia dizer que estava grávida, de tão mulherzinha que estava de sentindo.
Mas sabia o que estava acontecendo. Aquilo foi tudo o que ela sonhou durante a faculdade. Dormir no peito de Gustavo, tê-lo fazendo carinho nela. Os dois resolvendo os problemas do escritório juntos, parceiros, amigos. Conversarem até tarde, jantar no quarto pra continuarem em sua bolha.
Tudo estava acontecendo conforme ela sonhou. Ela nunca tinha sido essas meninas que vêem o mundo cor de rosa e que tudo sempre vai dar certo.
Ela via tudo como estava acontecendo. Problemas grandes pra resolver, exaustão. Mas ela sempre via Gustavo ao lado dela, como naquele momento.
Depois tiveram todos os problemas que ficaram maiores do que ela poderia resolver e a vida dos dois tomou outros rumos. E naquele momento, ali nos braços do amor de sua vida, percebeu o quanto queria seus sonhos de volta.
Ficou tentando lembrar o porque sentiu tanta raiva dele, porque quis tanto se vingar, porque queria tanto que ele sofresse. Depois ficou querendo se entender, pois tudo o que transbordava nela era amor. O amor que fez ela tatuar o nome dele em seu corpo. O amor que fez ela planejar perder a virgindade, que fez ela ter um filho dele. Todo o amor que sentia por ele e que a fez tomar uma decisão.
De manhã, quando o celular dele despertasse, ela o pediria em casamento.
Ela o amava, sentia que ele a amava também. Não tinha nenhum sentido continuar com aquela vingança patética e criar Gabriel separados.
Quando tomou compreensão de si mesma, que sempre foi essa menina romântica e queria Gustavo em sua vida, conseguiu sorrir e dormir.
E quando acordou, Gustavo não estava mais lá. Tinha um bilhete no travesseiro dele:
"Bom dia, mãe do meu filho que já amo.
Nos vemos no escritório. Tive uma idéia, vou procurar algum detalhe nos cofres do escritório e isso tem que ser feito antes das pessoas chegarem.
Faça o mesmo nos cofres do seu pai em casa, talvez achemos algo que nos ajude.
Estou mais empenhado agora em garantir o patrimônio do nosso filho.
Obrigada, Gu"
Bianca sorriu e achou a idéia dele fantástico.
Se levantou de pijamas mesmo e foi até o quarto dos pais. Abriu o cofre. Sabia que ali tinha algumas jóias da mãe, um pouco de dinheiro, algumas coisas importantes.
Não queria mexer naquilo e lembrar do pai tão amado e presente que teve. Remexer nas lembranças do pai, ainda doía, mesmo se passados quase 5 anos, e não era uma coisa que ela fazia. Tinha medo da faxada de mulher de ferro desmoronar e aquela menina pura e doce voltar.
Mas sabia que não podia mais evitar, principalmente naquele momento. Então, quando abriu o cofre, tentou evitar as lembranças e ser objetiva. Mas não precisou.
Encontrou um envelope pardo lacrado com os dizeres:
"Para Bianca, após minha morte. Maurício Duprat"
Bianca abriu o envelope e descobriu uma carta para ela, um dossiê anexado, instruções, alguns registros.
Colocou tudo dentro do envelope novamente, fechou o cofre do pai, levou o envelope para seu cofre e ficou olhando para ele trancado, com os olhos soltando faíscas de ódio.