Capítulo 33
1467palavras
2023-03-23 04:44
Quando Gustavo entrou com seus almoços, o coração de Bianca deu um pulo. Ele estava diferente! O ajudou a colocar as coisas na mesa e perguntou.
- Você está diferente, o que houve?
- Não mudei em nada.

- Mudou sim. O que é... - Bianca olhou para cima, como se tentasse descobrir, depois o encarou e deu um gritinho - Já sei, você não está submisso me cheirando...
- Isso sim. Desapeguei.
- Está em outra?
- Não. Em outras. Sabe o estilo pega e não se apega? Pergunta boba. Claro que sabe...
- Que bom pra você. O que tinha de urgente pra me falar? - Bianca tentou disfarçar o ciúme que sentiu.
Gustavo explicou pra ela sobre o problema que Paulo encontrou, e como trabalhou fora do expediente pra cumprir agenda e descobrir o que era.

- Isso não é trabalho seu. Suas funções vão muito além disso e você é um homem bem ocupado.
- Eu sei. Mas isso é grande e demandava o auto escalão.
- Do que se trata? Roubo como daquela outra vez?
- Não deixa de ser. Mas não é dentre nossos contadores e não vai ser tão fácil descobrir o que aconteceu. Vamos precisar de uma investigação completa e minuciosa.

- Você não descobriu?
- Descobri o problema. Mas a fonte dele está fora de minha alçada. Não é roubo. É fraude. Violenta, massiva e muito bem elaborada.
- Está me assustando.
- E é pra ficar assustada.
- Do que se trata?
- Seu patrimônio teve um balanço aquém das nossas expectativas. Nosso grupo de contadores estranhou porque tivemos alta em todos os segmentos.
- Isso não é possível! Como se tem altas e o geral fica em queda final?
- Exatamente por isso Paulo estudou exaustivamente tudo antes de me procurar. Nenhum investimento, nada que justifique isso.
- E o que você descobriu?
- A falta de um CNPJ no balanço.
- Só isso? Não é só voltar ele pro balanço que tudo se resolve?
- Sim. Se esse fosse o problema. Mas acontece que essa empresa sumiu do nosso poder. Não existe mais esse CNPJ registrado. É como se nunca tivesse existido.
- Como assim? Uma empresa não é fechada de uma hora pra outra no sistema.
- Exatamente! E não sabemos qual é ou o segmento. Vai precisar de uma equipe de peritos pra descobrir o que aconteceu e quem se apossou da sua empresa. Como conseguiu baixar ela do sistema e pra onde transferiu os ativos.
- O desfalque é muito grande?
- Menos de 3% do total
- O gasto e desgaste vale a pena?
- Não pelo valor. Mas é um mal que se deve cortar pela raiz. Se não investigar e exterminar, o risco de acontecer com tudo aos poucos é gigantesco.
- Você sabe o que fazer?
- Sei, claro.
- Então faça.
- Não posso.
- Como assim não pode?
- Pra fazer uma investigação dessa proporção, precisamos da receita federal envolvida, para não acabarmos sendo acusados de fraude no imposto.
- E como você tem um irmão no órgão, podem os dois ser acusados de conluio. Você não pode liderar a investigação.
- Infelizmente, não.
- Vou ter que pedir a Lorenzo para que faça isso
- Posso dar uma opinião?
- É claro!
- Por favor, não entenda mal. Mas isso nunca chegou perto de acontecer antes de ele chegar. Não estou o acusando de nada, mas quem fez, pode estar usando essa brecha na nossa administração pra dar os desfalques. Deixa-lo a frente da investigação...
- Vai dar mais munição para o fraudulento.
- Isso mesmo.
- Eu não posso! Estou muito atarefada, tenho minhas audiências. Você não pode , Lorenzo não pode. Emily está fora do país. O que faço?
- Assumo suas tarefas, delegue suas causas e eu te ajudo.
- Pra isso você vai precisar fazer mais da metade das tarefas do escritório e trabalhar da minha sala.
- Não me importo. Sou vice presidente, se não puder te ajudar, não mereço meu cargo.
Um lampejo de admiração passou pelos olhos de Bianca, o que fez Gustavo se arrepender de ter saído com outras mulheres. Se ele não cedesse, poderia ter uma chance num futuro distante.
Mas os dois terminaram de almoçar e voltaram a seus afazeres. Bianca pediu que trouxessem algumas coisas da mesa de Gustavo para ele se sentir mais confortável, e Suzy vai ajeitando tudo enquanto eles dois iam seguindo os comandos de Fabrício, irmão de Gustavo, quanto ao que fazer na mesa dela. Iniciaram a investigação na sexta mesmo, e naquele dia trabalharam até muito mais tarde para poder resolver tudo
Combinaram de trabalhar no sábado para adiantar algumas das tarefas de Bianca e outras coisas que Fabrício indicou que precisariam para a investigação.
No domingo, Bianca trabalhou de casa, escolhendo alguns associados para assumir seus casos. Fabrício disse que seria uma longa investigação, e que poderia levar de três a quatro meses.
Na hora do almoço, estava sentada no chão de sua sala encostada no sofá, com um coque frouxo no alto da cabeça, rodeada de papéis quando o interfone tocou, e a câmera da guarita do condomínio ligou. Viu um Gustavo com olheiras das imagens de segurança e autorizou a entrada.
Magda foi abrir a porta, passando por ela e perguntando se ela o receberia de pijamas. Bianca não se importava. Quando namoravam e ela estava estudando, muitas vezes se encontraram assim nos finais de semana. Ele vinha, ajudava ela a organizar a papelada e lia alguns casos em voz alta para ativar o cérebro dela, que ficava lento depois de ler por algumas horas
Ela dava muito valor a essa ajuda dele, e tinha que admitir que foi um grande diferencial pra ela na época. E seria agora, pois já estava com o cérebro lento e não conseguia mais se concentrar na escolha dos associados que melhor se encaixavam para cada um dos seus casos. E pra ser sincera consigo mesma, ficou bem feliz de ele se lembrar desse déficit dela e estar disposto a ajudar.
Quando ele entrou, colocou uma lata de energético bem gelado na frente dela e se sentou ao seu lado, sem nada falar já organizando a papelada. Bianca sorriu pra ele e se recostou, esperando ele começar a ler. Era tudo como antes.
Nas primeiras vezes, ela falava pra ele que tinha energético em casa, ele não precisava trazer. Aí ele dizia que sua mãe ensinou que nunca se chega na casa dos outros pra filar a bóia de mãos vazias. Com o tempo, ela passou a aceitar de bom grado sem nada dizer e essa cumplicidade os deixava mais próximos.
Resolveram uns dois ou três casos e Magda os chamou pra almoçar. Depois do almoço, resolveram tudo e Gustavo tinha uma lista bem organizada que fazia enquanto Bianca pensava. Com cada nome de cliente, telefone, detalhe do caso e associado designado.
Na segunda, entregou a lista para Suzy, pedindo que chamasse todos, clientes e associados, pra Bianca passar o caso e apresentar o novo representante. Bianca considerava cada cliente como único e sentia que o respeito com eles era primordial.
Gustavo cuidou de tudo no escritório e atendeu duas reuniões sozinho enquanto ela tinha essa consideração na parte da manhã. Estavam almoçando juntos no escritório, visivelmente exaustos quando Gustavo foi lembrado por Suzy que tinha uma reunião. Deixou Bianca descansando mais um pouco e foi pra sua sala.
Bianca escovou os dentes, se recompôs e foi trabalhar, e percebeu que precisava de um documento que Gustavo tinha pego, foi até a mesa dele buscar e pela primeira vez notou o porta retrato que trouxeram da sala dele e colocaram ali. Era uma foto dela com a Aisha. Ela não se lembrava quando a foto foi tirada, e nem poderia já que Aisha vivia tirando selfie das duas quando morava no Brasil.
Sentiu um nó no estômago de o porque Gustavo tinha uma foto dela em sua mesa todo esse tempo, mas não teve tempo de decifrar, pois Lorenzo entrou em sua sala sem bater.
Ela colocou o porta retratos de volta no lugar, e se adiantou. Lorenzo a tomou nos braços e deu um beijo de tirar o fôlego. Ela apenas pensou que estava certa: Ele era bipolar.
- Quer se casar comigo?
- Oi?
- Não gostei de ficar longe de você. Vamos nos casar?
Antes que pudesse responder, Gustavo entrou sem bater, claro, pois estavam dividindo a sala. Lorenzo olhou feio e perguntou o que ele estava fazendo ali com aquela intimidade. Antes que Gustavo respondesse, Lorenzo se aproximou e deu-lhe um soco
- Você não é ninguém, se afaste dela.
- Lorenzo, pare com isso. Você não pode falar assim com ele. Nós temos um filho...