Capítulo 6
950palavras
2023-02-05 10:57
Bianca percebeu Gustavo ao telefone nervoso e foi até ele.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não. Sim! Aisha está tendo acesso a redes sociais.

- E isso é um problema porque...?
- Ela é uma criança, Bianca!
- Ela tem quase 11 anos. Deixe de ser careta.
- O mundo está cheio de pedófilos. Vou cortar isso agora.
Gustavo se afastou com o telefone e Bianca revirou os olhos e entrou no quarto do pai. Ela queria muito se importar. Uma hora teria que conviver com a filha do noivo. Mas a criança tinha mãe e ela não queria ter responsabilidade tão cedo. Deixe que os dois resolvam isso, ela nem sabia como lidar com a situação.
- Minha filha, cadê o Gustavo?

- Oi pra você também, papai.
-Oh meu amor, também amo você. Mas o Gu é o filho que não tive. Obrigada por ter trazido um rapaz tão bom pra se juntar a nós.
- Está resolvendo coisas da filha dele
- Eu já liguei pro Paulo ajeitar tudo. Ele vai ser declarado vice presidente ainda essa semana. Eu vou descansar do acidente

- Mamãe e você estão tão bem. Não entendo porque não tiveram alta ainda.
Como que se tivesse sido chamado, o médico entra no quarto, cumprimenta Bianca e diz que está assinando a alta da mãe e o pai vai ser transferido para o Sírio Libanês. Um hospital maior e com mais recursos do que o deles numa cidade pequena.
Bianca pergunta se deu alguma alteração nos exames para que o pai seja transferido e precise de recursos, mas o médico olha pra ele e desconversa.
Ela desconfia, mas se sente aliviada. O pai de volta na capital e a mãe de alta, pode cuidar dele enquanto ela cuida do escritório.
Depois da transferência, Bianca agradece mentalmente por estar de volta em seu quarto e não em um hotel. Gustavo está estranho, distante. E ela não sabe se é por causa da filha ou pelo o que aconteceu entre eles na noite do acidente.
Depois dos trâmites de posse do novo cargo, ela deixa o escritório a cargo dele e vai pro hospital falar com os médicos. Quer ver se encontra alguém pra falar com ela fora do quarto do pai. Sente que tem alguma coisa errada e que o pai intimida os médicos para não lhe falar nada.
Hoje ela estava de motorista do escritório, então no caminho resolveu postar as fotos da formatura. Notou uma foto linda em que estava ao lado de Gustavo olhando pra alguém, enquanto sorria largamente. Percebeu que tinha poucas fotos com ele e nunca postou nenhuma. Nunca foi dada a muitas postagens, e estava tão acupada aprendendo a liderar, ser boa e passiva com os colaboradores, faculdade e namoro, que mal tinha tempo para os amigos, quanto mais ficar contando a vida nas redes sociais.
Mas aquela foto era ótima e merecia uma hashtag, então ela postou com a legenda: felicidade que fala, né?
Desceu do carro e foi pra administração. Respirou fundo, se encheu da arrogância que aprendeu com o pai e pediu pra falar com o diretor.
Estava se tremendo toda, nunca falou com tanta arrogância com alguém e tinha a certeza que a própria recepcionista iam chama-la de franguinha e mandar sair da frente dela.
Mas pra sua surpresa, funcionou perfeitamente. A menina, assustada, fez um ligação e depois pediu que ela a acompanhasse.
Ela entrou, se apresentou, manteve a pose e disse que não sairia dali sem uma resposta concreta sobre o estado de saúde do pai.
- Entenda, srta Bianca, que seu pai deixou ordem expressa para que seu histórico médico não fosse divulgado.
- Quem você acha que paga a brincadeira aqui? Ele está se aposentando, eu estou assumindo tudo, tenho o direito de saber. O senhor me passa toda a informação e esteja certo de que ninguém saberá de nada.
- Vou te falar, mas não pela sua ameaça sutil. Mas porque seu pai vai precisar de um tratamento, e ele recusa porque você vai descobrir o estado de saúde dele e ele não quer.
- É grave, doutor?
- Muito grave. Ele foi diagnosticado com um tumor no cérebro há 6 meses. Depois do acidente, as tumografias indicaram metástase.
Bianca sentiu o escritório rodar. Câncer! Seu pai estava com câncer cerebral. Tentou manter a calma, ele poderia fazer a cirurgia, tratamento, ele ia ficar bem. Tentou parecer a advogada forte e decidida que entrou ali e perguntou sobre a cirurgia.
- É inoperável.
- Quimio? Rádio?
- Poderiam ter surtido efeito logo quando descobriu. Depois das metástases, é só um paliativo. Para prolongar o inevitável.
- Inevitável? O Sr está dizendo que meu pai está em estado terminal?
Sim. Infelizmente não há mais o que se fazer. Podemos tentar prolongar. Mas se ele continuar se recusando...
- Quanto tempo?
- Sem tratamento nenhum, um mês no máximo.
- E com o tratamento?
- Seis meses, talvez um ano
-Obrigada, doutor.
Bianca saiu de lá direto pra o quarto do pai. Queria brigar com ele, gritar e obrigar fazer o tratamento. Não acreditava que o pai deixou chegar nesse ponto. O que ele estava pensando? Por isso então ele exigia o casamento o mais breve possível. Queria transferir a responsabilidade para Gustavo, pra eu ela não tivesse sozinha no momento final da vida dele. Idiota, ele não sabia que nenhum amor poderia substituir ele?
Empurrou a porta do quarto furiosa, pronta pra guerra. Mas quando o viu, deitado naquele leito com sua mãe lhe segurando a mão, seu mundo enfim desabou. Desatou num choro sentido e desesperado. Abraçou os dois juntos e percebeu que eles também choravam, sem conseguir parar.