Enquanto dirigia, Ryeon sentia o clima chato que estava dentro do carro.
Lucy, que estava ao seu lado, permanecia quieta em completo silêncio desde que havia saído de casa. Jaesun, que estava no banco de trás, até bufou e fechou com força a porta quando entrou no carro, mas buscou seu celular e então permaneceu desse jeito.
Era chato porque Ryeon sabia que o modo em como a mãe de Lucy a tratava machucava friamente a alma da garota. Não entendia o porquê da mulher precisar ser tão cruel, mas não queria ver a sua garota daquele jeito.

Então, logo após passar a marcha do carro, ele deslizou sem vergonha alguma sua mão, e encontrando a dela, juntou os dedos.
Lucy olhou aquilo e se atentou. Olhou nos olhos de Ryeon e suspirou, dando um sorriso bonito em seguida.
ㅡ Mark disse que já está lá. ㅡ falou Jaesun. ㅡ falou que já há muitas pessoas.
ㅡ Só espero conseguir uma vaga perto da entrada. ㅡ falou Ryeon.
ㅡ Você acha que vão nos olhar? ㅡ perguntou Lucy, ainda com sua mão presa a de Ryeon.
ㅡ Possivelmente. ㅡ ele respondeu-a. ㅡ mas isso é um problema?

ㅡ Não é que... Sabe, é a minha primeira vez saindo de casa assim.
ㅡ Isso é além de uma fantasia para você, não é? ㅡ perguntou sorrindo e olhou-a de relance, vendo-a assentir. ㅡ mas eu não vou deixar com que falem algo ruim para você, eu prometo.
ㅡ É bom ouvir a boiolagem de vocês, sabia? ㅡ Jaesun atrás comentou. ㅡ Me sinto menos sozinho no mundo.
ㅡ Por que menos sozinho? ㅡ Lucy perguntou virando-se.

ㅡ Porque eu quero ficar de boiolagem com o Mark, e temia ser muito gay, mas ainda bem que tenho vocês.
ㅡ Mas não somos gay. ㅡ falou Ryeon. ㅡ não é?
ㅡ Não, mas são boiolas, então um casal hétero boiola pode ser tão gay quanto um casal gay.
Casal hétero... Ryeon ria e perdia-se em seus pensamentos. Há semanas atrás poderia jurar que era gay, mas apenas porque estava apaixonado pela alma de Lucy, o que para ele naquele tempo, era a de Woojin.
Mas agradecia o destino por lhe dar a chance de entender um pouco mais de si, não precisando se rotular com tanta pressa assim, mas aproveitando e se conhecendo mais.
ㅡ Mas mudando de assunto. ㅡ falou Ryeon, de súbito. ㅡ como que usa saia sem tudo ficar encostando?
ㅡ Você não pôs um short? ㅡ perguntou Jaesun sorrindo.
ㅡ Pus, mas... É um da minha mãe.
Lucy olhou-o e em seguida encarou Jaesun. Ambos caíram em um riso extenso, fazendo Ryeon negar, mas também fazendo-o rir.
ㅡ Não me julguem, era o único que dava para usar com a saia. ㅡ falou a seu favor, e então olhou para Lucy. ㅡ você também não achou difícil achar um? Todos sempre ficavam maiores que a saia...
ㅡ Não, por que eu não estou com um por baixo.
A garota ainda ria junto a Jaesun, sentindo até mesmo suas bochechas doerem, mas Ryeon apenas a olhava, com os olhos totalmente arregalados.
ㅡ Sem short? ㅡ perguntou-a, fazendo Lucy parar de rir ao olhá-lo. ㅡ não fica com... Sabe, o vento batendo...?
Lucy continuou olhando-o, mas Jaesun caiu em um riso alto outra vez. A garota prendeu o próprio riso quando ouviu Ryeon argumentar mais uma vez.
ㅡ É que está frio... E, hm... Eu senti um ventinho muito frio...
A garota negou encostando-se no banco e virando-se de lado.
ㅡ Não Ryeon, estou usando uma meia calça por debaixo, ela deixa tudo seguro e esquenta.
ㅡ Ah... Se eu soubesse...
ㅡ Tudo bem, você está lindo de Dionne. Mesmo que pareça uma que fale gírias e venda drogas. ㅡ brincou.
ㅡ Aigoo, eu já disse que é estilo.
ㅡ Estilo de vendedor de drogas. ㅡ falou Jaesun, findando o assunto quando viu a escola a frente e ergueu-se para olhar melhor. ㅡ Minha nossa, olha ele lá. ㅡ apontou.
Ryeon olhava ao redor, e sorriu ao ver uma vaga bem à frente. Desligou o carro e desceu junto aos outros, travando-o e deixando o alarme ativo.
ㅡ Um par de ladrões? ㅡ perguntou enquanto caminhava ao lado deles.
ㅡ É, mas esse é o ladrão de coração, já que roubou o meu.
Jaesun falou e logo acenou para Mark, que sorriu de volta e encolheu-se juntando as mãos à frente do corpo.
ㅡ Pensei que ele iria vir de arbusto. ㅡ brincou Ryeon.
ㅡ Como você é idiota, não é? ㅡ Jaesun olhou-o, dando língua. ㅡ Vejo vocês lá dentro. ㅡ avisou por fim, antes de ir.
E ele vai animado, parando na frente de Mark quando chega até ele, sorrindo e recebendo um abraço de urso do garoto, antes de se olharem outra vez e deram um selinho ligeiro.
ㅡ Eles são fofos. ㅡ diz Lucy ainda os olhando.
ㅡ Eae meus chapas.
Ouvindo a voz de Kuan ressoar, ambos olharam e viram-no vindo junto a Daniel. Kuan vestia uma fantasia do brinquedo assassino; Seu rosto tinha algumas marcas insinuando as costuras de Chucky, vestia um macacão jeans azul e uma camisa vermelha com listras verdes e azuis.
ㅡ Woah, que legal seu cabelo. ㅡ Lucy falou, apontando para os fios espetados para o alto e pintados de laranja.
ㅡ Eu quem fiz. ㅡ Daniel disse todo sorridente. ㅡ é com spray... Gostei da sua fantasia, ficou muito linda.
ㅡ É de Cher Horowitz. ㅡ falou a garota, dando a volta por si só e mostrando tudo. ㅡ ficou boa mesmo oppa?
ㅡ Ficou linda. ㅡ Daniel disse assentindo.
ㅡ ficou da hora mesmo. ㅡ concordou Kuan, abraçando seu namorado pela cintura. ㅡ Pô, meu vampirinho tem toda razão, ficou muito massa.
E olhando para a fantasia que Daniel usava, Lucy viu como a calça que ele usava era justa, contornada com alguns detalhes em vinho e indo até o centro de sua cintura, prendendo alto com alguns botões médios e comportando a camisa social que ele usava por dentro. Também tinha uma capa preta por fora e vermelha por dentro; sua maquiagem deixava sua pele levemente mais pálida do que o normal, mas seus olhos eram vividos, esfumados num tom marrom cintilante.
ㅡ Mas pô, por que você veio com essa meia na canela? ㅡ perguntou Kuan para Ryeon. ㅡ Tem noção do ridículo não?
ㅡ Ridículo é você, zé mané, isso é estilo.
ㅡ Se você diz... ㅡ falou olhando para a escola. ㅡ Mas aí, não tem bebida nessa joça, não é?
ㅡ É uma festa com adolescentes Kuan. ㅡ falou Ryeon, entrelaçando seus dedos com os de Lucy naturalmente, caminhando para dentro da escola junto a seus outros amigos. ㅡ demos sorte que conseguimos fazer a noite, geralmente é sempre pelo dia.
ㅡ É porque é nosso último ano. ㅡ respondeu Daniel.
Adentrando enfim a escola, logo viram como estava escura, com algumas luzes piscantes e coloridas iluminando e com o som da música e das vozes altas se misturando.
ㅡ Mas eu trouxe o meu álcool. ㅡ falou Kuan mostrando o cantil que tinha em seu bolso. ㅡ Alguém afim?
Todos negaram, e até mesmo Daniel revirou os olhos.
ㅡ Se cuidem. ㅡ ele falou afastando-se com Kuan. ㅡ preciso ficar de olho nesse inconsequente aqui.
Agora com somente Lucy e Ryeon ali na entrada da festa, ambos olhavam ao redor e avistavam seus amigos espalhados por todo o ginásio.
ㅡ Woojin!
Lucy franziu o cenho e virou-se ligeiramente. Viu Kimi adentrando o lugar e assustou-se. A garota já havia entrado quase no fim do semestre, não sabia que ela iria para uma festa tão em cima da hora.
ㅡ Oi. ㅡ Lucy sorriu tímida e acenou para ela.
ㅡ Posso ficar com vocês aqui? É que eu vinha com o Min-gi, mas ele ainda não chegou...
ㅡ Tudo bem, pode ficar. ㅡ Lucy disse simpática.
ㅡ Vou buscar uma bebida, vocês querem? ㅡ perguntou Ryeon.
ㅡ Eu vou com você, oppa, te ajudo.
E sem ter como dizer algo para negar a garota, Ryeon apenas assentiu, pedindo para que Lu não saísse do lugar, pois assim não a perderia de vista.
ㅡ O que tem aqui? ㅡ Kimi perguntou a Ryeon enquanto olhavam a imensa mesa que suportava diversos tipos bebidas.
ㅡ Não sei, mas são todas sem álcool.
ㅡ O que será que Woojin irá querer beber? ㅡ ela perguntou ainda pensativa.
Ryeon desviou o olhar da mesa para a garota e coçou a nuca antes de apontar para a bebida de morango.
ㅡ E você, oppa? ㅡ ela sorriu buscando a bebida de Lucy.
ㅡ Vou beber a de limão mesmo... ㅡ disse. ㅡ Kimi, eu, hm... Posso te perguntar uma coisa?
A garota virou-se para Ryeon, ficando frente a frente com ele e assentiu.
Lucy observava-os distante, e sentiu um calafrio subir por seu corpo, o que ela não queria acreditar que fosse ciúme, mas... Estavam tão, tão perto um do outro. E Ryeon sorria enquanto apenas a olhava.
Mas a verdade era que, Ryeon sorria de nervoso, enquanto bolava um jeito de perguntar o que queria a garota, olhava-a e sentia-se cada vez mais nervoso, então viu que não tinha modo "neutro" de perguntar, então foi direto no que queria saber.
ㅡ Você está a fim de alguém?
A garota abriu os olhos e rapidamente sua bochecha ficou rubra. Sua fantasia era de boneca, e aquilo deixou-a ainda mais fofa.
Mas ela sorriu, desviando o olhar para o chão enquanto assentiu.
ㅡ E está aqui?
ㅡ Aqui você diz... Na festa?
ㅡ Sim. A pessoa está aqui na festa?
Kimi ergueu o olhar e suspirou, olhando para a entrada do lugar sorrindo e assentindo outra vez.
ㅡ Está.
Ryeon seguiu seu olhar e viu que era Lucy ali. Sentiu o frio na barriga vir com força, então coçou a nuca sem jeito.
ㅡ Ah... Entendi.
ㅡ Vamos, oppa, a bebida vai ficar quente e o Woojin pode não gostar.
ㅡ Você... Hm, poderia não chamar por Woojin. ㅡ olhou-a enquanto tinha um bico em seus lábios. ㅡ pode chamar de Lu.
ㅡ Só Lu? ㅡ franziu o cenho.
ㅡ É, só Lu.
ㅡ Mas por que Lu?
ㅡ É um apelido que, hm... Nós amigos criamos. Você é uma amiga agora, né?
ㅡ Acho que sou. ㅡ ela disse voltando a sorrir com as bochechas infladas.
ㅡ Só amiga, não é?
ㅡ E o que mais eu seria?
ㅡ Eu morro de sede e a bebida não chega.
Ryeon assustou-se com a voz de Lucy, mas Kimi sorriu e entregou-a a latinha que tinha nas mãos. A garota sorriu de volta, buscando a lata e agradecendo-a, mas seus olhos logo buscaram os de Ryeon.
E pareciam conversar em silêncio.