Capítulo 149
1552palavras
2023-02-07 09:52
Heitor me pegou no colo, surpreendendo-me:
- Já resgatei uma bêbada exatamente neste lugar. E eu estava louco por ela. Lembro de cada detalhe daquele dia.
- Quem diria que tempos depois... Seríamos quatro e não mais dois fujões de sentimentos...

- Sentimentos profundos... – Ele gargalhou, me dando um beijo no rosto.
Enlacei minhas mãos no pescoço dele, que seguiu comigo no colo pelo trajeto até o carro:
- Vai cansar... Estou acima do peso...
- Vou levá-la para parir nosso filho no meu colo. – Os olhos verdes encontraram os meus.
- Vou cobrar isso, desclassificado.
Assim que chegamos no carro, ele disse, suspirando:

- Anon faz falta.
- Porra, vai ser sete dias. Ele merece.
Olhamos para o segurança há metros de distância, num outro carro, nos observando.
- Ele parece um infiltrado.

- Concordo... – Comecei a rir.
Entramos no carro e ele deu a partida, enquanto o segundo carro nos seguiria a cada passo que déssemos enquanto Anon não retornasse da lua de mel.
- A parte boa é que até eles voltarem o elevador vai estar instalado e funcionando.
Coloquei minhas pernas para cima, os pés ficando elevados no painel do carro.
- Isso dói na minha alma... Meu Maserati sendo maltratado. – Ele olhou na minha direção.
- Caralho, você deu um elevador de presente para o seu segurança pessoal e reclama que meus lindos pezinhos estão em cima do painel do seu carro?
- É só um elevador, meu bem.
- Acho que custa quase o preço do apartamento.
- Eles merecem... São meus melhores funcionários.
- E meus melhores amigos. – Bati de leve na perna dele.
- Estou um pouco nervoso de contar sobre a bebê para Malu.
- Relaxa, Heitor. Ela vai amar a notícia.
- E sobre a morte do meu pai?
- Liguei para a psicóloga. Ela disse que precisamos contar a verdade a ela. Antes falar sobre vida e morte, de uma forma simples, para ela conseguir entender um pouco. Devemos também estimular todas as boas lembranças que ela tem com a avô. E dar um tempo para ela absorver tudo.
- Você... Falou com a psicóloga dela?
- Claro que sim, Heitor. Eu não tinha ideia de como agir. E já não confio mais tanto no senhor Google.
- Primeiro falamos da morte do vovô ou do bebê que vai nascer?
- Primeiro da morte, depois da vida... – Toquei meu ventre.
- Bárbara, é surreal saber que um bebê nosso está dentro de você. Em pouco tempo atrás eu tinha uma vasectomia...
- E eu a pouca porcentagem de ser mãe... Enfim, nosso milagre, Heitor. Mais um.
Chegamos em casa e Nicolete estava tentando convencer Malu a tomar banho. Assim que nos viu, nossa filha correu até nós, pulando nos braços do pai.
- Acho que papai merece uma filha limpa, de banho tomado. – Tentei.
Ela fez cara feia e sinal negativo com a cabeça.
- Quem sabe você toma um banho e depois a gente tem uma conversa séria? – Heitor olhou nos olhos dela, firmemente.
- Séria? – Ela perguntou.
- Uma... Surpresa. – Falei.
- Banho... – Ela remexeu as pernas e desceu do colo de Heitor, correndo para os braços de Nicolete.
Nicolete saiu com ela nos braços, em direção à ala dos dormitórios. Fui na mesma direção. Tomei um longo banho e deitei na cama.
Assim como eu, Nic também não quis uma babá para cuidar de Malu. Mas ao mesmo tempo ela assumiu aquela função. Não desgrudava da menina um minuto sequer. E assim ela me ajudava, muito. Em nada ela lembrava aquela mulher que um dia foi ríspida comigo. Hoje eu via na mulher que criou Heitor e hoje cuidava da minha filha a mãe que eu perdi tão cedo. Sim, pois acho que se Beatriz Novaes fosse viva, seria exatamente como Nic.
A porta do quarto se abriu e uma Maria Lua entrou correndo, com um pijama de unicórnio, todo colorido e sem meia. Peguei a mão dela enquanto a pequena escalou o colchão, se aconchegando a mim, deitada com a cabeça sobre o mesmo travesseiro.
- Este pijama que a bisa Mandy lhe deu é lindo. – Falei.
Ela sorriu, com os dentinhos branquinhos brilhantes visíveis.
Heitor saiu do banheiro, enrolado numa toalha branca, o peito nu, os cabelos úmidos. Uma visão direta do Olimpo. Meus olhos focaram no seu abdômen perfeito e fiquei confusa sobre o que pensar ou dizer naquele momento, só pensando em enchê-lo de beijos molhados, usando a ponta da língua para explorar cada pedaço daquela pele cheirosa e macia.
- Tudo bem com você, desclassificada? – Ele perguntou ironicamente.
- Tentando resistir.
- “Cassificado”! – Malu repetiu – Be “cassificado”.
- Por que ela insiste em chamar o gato de desclassificado? – Perguntei.
- Ela acha que é um apelido carinhoso – ele explicou – O que não deixa de ser, não é mesmo?
- Ok, você mudou completamente o sentido da minha palavra. – Fingi estar brava.
- Onde está o Be, Malu? – Heitor perguntou, deitando na cama, ao lado da filha.
Ela levantou as mãozinhas, confusa.
- Nic disse que o Be anda fugindo durante o dia. Tem uma gata no cio pelas redondezas.
- Será que damos a notícia que os gatinhos vão nascer primeiro que o bebê? – Heitor levantou a cabeça.
- Claro que não... Talvez a gente nem conheça os filhos dele.
- Podemos seguir pelas câmeras.
- Só pode estar brincando.
- Bebê? – Malu perguntou, levantando a cabeça.
Peguei a mãozinha dela e coloquei sobre o meu ventre:
- Aqui dentro tem um bebê, bem pequeno... Deste tamanho – mostrei com o dedo – E ele vai crescer e vai nascer. E Malu vai ter um irmãozinho ou irmãzinha.
Ela encolheu os olhinhos, a mãozinha apertando levemente meu ventre. Depois olhou para mim e Heitor e voltou para a minha barriga:
- Oi... Bebê. – Ouvimos a voz dela seguida de um sorriso.
Heitor colocou a mão sobre a minha. Nos últimos tempos, confesso que minha vida teve muito mais momentos felizes do que tristes. Aliás, desde que Heitor entrou na minha vida, tudo virou de cabeça para baixo... Ou melhor, eu sempre vivi de cabeça para baixo. Mas sentia que amadurecemos juntos. Era como se nosso encontro tivesse sido marcado há tempos, pelo destino.
Eu tanto me perguntei se Deus realmente existia. Agora eu entendia que Ele estava em todos os lugares do mundo, ao mesmo tempo. Mas naquele momento, sentia Deus exatamente junto conosco, pondo Sua mão sobre a de Heitor, abençoando a nossa vida, a nossa família que nasceu do nada, o amor que nos unia de forma tão intensa.
Tempos atrás eu lamentei por talvez não poder ser mãe. Tempos atrás Heitor, por decisão própria, decidiu não ser pai. Tempos atrás, minha melhor amiga decidiu escolher quem seria o pai de seu bebê. Tempos atrás, um homem qualquer, que jamais saberíamos quem, fez um filho em Salma. Tempos atrás, eu ganhei uma filha, exatamente no mesmo dia que perdi minha melhor amiga. Há um dia atrás, perdemos uma pessoa muito importante nas nossas vidas... E neste mesmo dia, descobrimos que eu poderia sim ser mãe, e que Heitor já não queria mais ser um homem sozinho, por isso reverteu a vasectomia. Tempos atrás não sabíamos exatamente quem éramos e nem o que queríamos... Hoje sabíamos tudo que nos unia... Os laços do amor, fossem de sangue ou não.
Meu celular tocou. Peguei e olhei no visor:
- Sebastian? O que ele quer esta hora? – Perguntei, curiosa.
- Atrapalhar o nosso momento – Heitor suspirou.
- Oi, irmão lindo!
- Tenho uma surpresa.
- Jura? Eu também.
- A minha é melhor. Adivinha? Milena está grávida.
Olhei para Heitor e não me aguentei, começando a rir.
- O que houve? – Heitor me perguntou.
Coloquei no viva voz e pedi:
- Malu, conte para o tio Bastian o que tem dentro da barriga da mamãe!
- Um bebê. – Ela disse, imediatamente, sorrindo.
- Mentira! – ele riu – Não acredito, vamos ter nossos filhos juntos, Babi... Isso é...
- Maravilhoso! – Respondi.
- Sebastian, seu invejoso, não acredito que fez um filho em Milena no mesmo dia que fiz em Babi.
- Ei, parabéns, Sebastian – falei – Amor, acho que estou tendo o primeiro desejo. – Olhei para Heitor.
- Que desejo? – Heitor levantou a cabeça do travesseiro imediatamente.
- Desejo que você diga que ama Sebastian...
- Você só pode estar louca. – Ele arqueou a sobrancelha.
- Vamos, diga logo ou o bebê vai ficar bravo.
Heitor ficou um tempo em silêncio, depois disse:
- Eu amo você, Sebastian.
Ouvi a gargalhada de Sebastian do outro lado da linha.
- Irmão, seu sobrinho ou sobrinha quer que você diga ao papai Heitor que o ama.
- Nem morto. – Sebastian garantiu.
- Ok, vou ligar para Milena e dizer que você se negou em atender o primeiro desejo de grávida da sua irmã. – Chantageei.
- Heitor... Eu amo você, cara. E toda a sua família.
Comecei a rir, enquanto Malu me imitava:
- Na linha, Sebastian, vou chamar Ben e Mandy nesta conversa. Todos precisam saber que você e Heitor se amam.