Capítulo 3
863palavras
2022-11-24 20:04
Fiquei bem na frente do quarto de mamãe, mas não fiz nenhum movimento para abri-lo. Estava com medo de ver seu corpo frágil encolhido na cama e descobrir que ela não estava mais respirando. Ela era a única pessoa que tinha agora, e pensar que ela também ia me deixar partiu meu coração em um milhão de pedaços.
Uma lágrima escorreu pelas minhas bochechas. Quando Grey pediu o divórcio, não chorei, mas quando mamãe estava envolvida, simplesmente perdi o controle. Perdê-la significaria perder meu mundo também.
Tomei toda a coragem que consegui reunir, para girar a maçaneta e abrir a porta.
O que me veio à vista foi a cama vazia. O choque me atingiu como um relâmpago e, imediatamente, corri para dentro do quarto para ver onde ela estava. As batidas no meu peito era tão altas, que eu as podia com meus ouvidos.
E se ela tivesse caído da cama e machucado o seu corpo frágil? Com esse pensamento em mente, meu medo se aprofundou. Lágrimas correram pelo meu rosto. Não havia ninguém debaixo da cama, mas ainda assim minha preocupação continuou a se acumular.
"Mamãe?" Chamei ela, mas foi o silêncio que me respondeu.
E se ela tinha ido ao banheiro e escorregou? Engoli em seco e corri para o banheiro, mas até o banheiro estava vazio quando cheguei lá.
Minhas mãos viraram gelo e meus joelhos tremeram enquanto eu a procurava.
"Cadê você, mãe?"
O pânico se desenrolou dentro de mim. Antes mesmo de perceber, descobri que estava chorando. Percebendo que a porta da varanda estava entreaberta, corri direto lá. Mamãe estava ali, sentada no único sofá. Um álbum de fotos aberto em seu colo. Ela devia ter se rastejado no chão para chegar até lá. Ela adorava a vista estrelada do lado de fora da janela e gostava do ar fresco da noite. Eu a proibia de vir à varanda à noite. Mas ela tinha o costume de fazer isso.
Como se ela sentisse que eu estava lá, ela ergueu a cabeça para mim e sorriu: "Lily, sente-se aqui, querida."
Alívio tomou conta de mim. Corri para o lado dela e a envolvi com força em meus braços, para mostrar a ela o quanto a amo. Eu estava com tanto medo que não percebi que ainda estava prendendo a respiração.
"Eu pensei que você tinha me deixado!" Minhas lágrimas brotaram quando me ajoelhei na frente dela. A dor era tão grande que eu mal conseguia respirar. Achei que ela finalmente tinha parado de lutar contra o seu câncer estágio três. Ela era a única que tinha agora, depois que meu pai faleceu há um ano. Não podia me dar ao luxo de perder outro ente querido novamente.
"Não chore, querida... estou aqui..." Ela gentilmente me pegou em seus braços e acariciou meus cabelos com suas mãos finas e ásperas.
"Não me assuste de novo, mãe." Eu disse a ela.
"Eu prometo, querida, então, por favor, pare de chorar." Mamãe levantou suas mãos frágeis e enxugou as lágrimas em meu rosto até que estivesse completamente seco, então ela olhou profundamente em meus olhos com amor brilhando neles.
Mamãe amava a cor única dos meus olhos. E ela sempre olhava nos meus olhos sempre que tinha uma chance. Eu sofria de uma doença ocular rara chamada Heterochromia Iridum, que tornou a cor da minha íris diferente uma da outra, sendo o olho esquerdo verde esmeralda e o outro azul oceano.
"Seus olhos eram os olhos mais lindos que eu já vi, Lily. Você também é única e bonita e, onde quer que vá, parece se destacar de todos os outros. Na sua idade, você deveria estar curtindo sua vida, mas olhe para você, você me tem como um fardo. Sinto muito por você não ter terminado a faculdade, para que pudesse cuidar bem de mim."
"Você é a melhor coisa que me aconteceu, mãe. Nunca me cansarei de te amar e nunca te considerarei um fardo nos meus ombros." Eu a puxei em meus braços e a abracei forte. Foi a minha maneira simples de mostrar o quanto a amo.
"Já é tarde mãe, você precisa dormir agora. Vou ajudá-la a ir para a cama." Quando o abraço acabou, eu a informei. Peguei o álbum de fotos do colo dela e a ajudei a se levantar do sofá. Mamãe era tão leve, que eu poderia carregá-la em meus braços sem dificuldade.
"Eu preciso te dizer algo importante, Lily." Ela disse no momento em que a deitei na cama. Mamãe mostrou um tom de urgência.
Meu olhar se desviou para o relógio da parede e vi as horas, então balancei a cabeça. O médico a proibiu de dormir até tarde. Fazia mal à saúde dela.
"Em outro momento, mãe. Ok? Você deveria dormir agora." Eu a beijei nas bochechas. "Boa noite, mãe." Eu sussurrei. Ela se deitou na cama e fechou os olhos. Momentos depois, ela estava dormindo profundamente.
Escutei seu ronco suave, enquanto observava o subir e descer de seu peito.
"Eu te amo." Eu sussurrei com uma lágrima rolando em minha bochecha e, rapidamente, a enxuguei com as costas das minhas mãos antes de ir para o meu quarto.