Capítulo 18
1178palabras
2024-11-12 05:12
Cheguei em casa uma hora e meia depois e preciso dizer que foi um sacrifício largar ela, mas tinha decidido passar a noite com meu filho, depois da quebra de rotina de ontem seria bom para Will ficar com a família hoje.
O barulho vinha da televisão e da conversa animada das duas matronas da família. Minha mãe e a mãe de Brutos estavam conversando animadas, enquanto Will brincava sentado no tapete da sala.
— Em casa já? — minha mãe debochou e eu semicerrei os olhos em sua direção tentando ver se ela estava só fingindo ou se não tinha mesmo ideia de onde eu estava, mas bastou uma levantada de sobrancelha para que eu soubesse que minha mãe só estava jogando ver, ela sabia bem onde eu tinha passado a tarde.

— Não vou trabalhar hoje. — murmurei chegando mais perto e deixando que as duas continuassem me analisando.
— Papai, vem brincar comigo! — meu menino pediu animado quando viu que eu não tinha que sair correndo de novo.
— Papai vai tomar banho e já vem Axl.
— Shiiii! — ele gritou colocando o dedinho sobre a boca. — Não pode dize a identidade sequeta. — sorri pra ele ainda achando fofo sua dificuldade em acertar as palavras e feliz por ele finalmente ter aceitado seu nome.
Me agachei em sua altura e baguncei o cabelo já desgrenhado antes de correr para cima em busca de um banho. Sai correndo da casa de Maria e não tomei um banho, porque se entrássemos naquela de novo era bem capaz que eu nunca fosse conseguir sair dali.
Fazia tempo que eu não passava a noite com eles assim, sentado no chão brincando com Will enquanto minha mãe conversava comigo e assistia algum filme ou novela. Eu passava o dia com ele, mas sempre estava resolvendo algum problema ou ocupado de mais com o bar.

Brincamos com todos os bonequinhos de heróis que ele tinha, a sala acabou virando um campo minado de brinquedos, blocos, bonecos, carrinhos, todos espalhados pelo tapete, eu tinha certeza que alguns tinham ido parar em baixo do sofá, mas ficariam lá, toy story que me perdoe.
— E então. — minha mãe falou chamando minha atenção quando tentei passar sorrateiramente para a cozinha. Não queria enfrentar o caminhão de perguntas que estavam explícitas em seu olhar, mas agora que o pequeno estava dormindo não tinha como me esquivar. — Vamos lá. — ela deu batidinhas no sofá ao seu lado e só me restou bufar e me juntar a ela. — O que te fez correr daquele jeito?
— Duvido que ainda não saiba, especialmente com Denis e Brutos por ai fofocando. — ela continuou me encarando com o olhar impassível, dona Magda só sossegaria depois de ouvir da minha boca. — Teve uma briga no restaurante, um casal de racistas de merda começaram a insultar Maria e ela teve que colocá-los pra fora, quando eu cheguei a confusão estava no fim e a polícia estava lá, então eu a levei a delegacia.
— E de lá vocês foram pra casa dela. — ela concluiu para mim. Sabia bem onde minha mãe queria chegar, só não entendia essa fixação dela com a Maria. Mas não me atrevi a dizer nada, permaneci ali encarando um ponto acima de sua cabeça, fingindo estar interessado no silêncio que se formou — Você sabe que já está na hora, não sabe?

Não, não sabia. Mas nunca acreditei que qualquer pessoa teria escolha quando o assunto fosse se apaixonar. Não que eu acreditasse nessa merda de amor a primeira vista ou destino, eu acredito no que sentia, isso era simples, ou você gosta de uma pessoa ou não.
Tinha sido assim com Luna, ela chegou sem que eu percebesse, tomou conta de todo meu sistema e me destruiu quando tive que enterrá-la. Eu nunca fui capaz de encerrar nosso relacionamento, de colocar um ponto final, ela simplesmente foi arrancada de mim me deixando com um buraco no peito. Não tive a chance de me despedir, eles levaram uma mulher grávida para a sala de cirurgia e me devolveram apenas um bebê.
Tive que lidar com a perda de uma forma devastadora, me sentia mal no começo por estar feliz com Will quando ela não teve a chance nem de ver o filho, me sentia ainda pior por estar vivo quando era Luna quem deveria estar aqui cuidando do nosso menino.
Eu tive tempo para me apaixonar por ela, para deixar o sentimento crescer e criar raízes, mas nunca tive tempo para deixar de amá-la.
— Eu ainda a amo. — sussurrei com o único fio de voz capaz de passar na minha garganta apertada nesse momento.
Era estranho confessar isso quando horas atrás tinha acabado de dizer que estava começando a ter sentimentos por Maria. Podia mesmo amar duas pessoas ao mesmo tempo?
— Meu filho você têm direito a amar novamente, você está vivo e deve recomeçar sua vida. Por você, por seu filho, por sua felicidade! — ela segurou minhas mãos com força e eu baixei os olhos para seu colo.
Minha mãe tinha estado ao meu lado, ela e Brutos eram as pessoas que mais me viram no pior, quando eu me afastava de todos apenas para chorar por não acreditar que ela tinha partido.
— Não quero envolver Will nisso ainda, posso lidar com meu coração partido, mas o dele jamais.
Seus carinhos se transformaram em tapinhas de leve, aquilo era um sinal que ela estava satisfeita com minha resposta e ia parar de forçar meus botões. Por hora pelo menos.
— Luna ficaria feliz com isso. Acredite.
Eu acreditava, Luna gostava de pensar no bem de todos a sua volta, ela nunca aceitaria que eu estivesse me afundado e esse foi um dos motivos que me fizeram voltar a viver. Depois de Brutos amavelmente me dizer para parar de me afundar, porque ela estaria se contorcendo no túmulo com vergonha e vontade de chutar minhas bolas. Ele também tinha razão assim como minha mãe agora.
Estava na hora de abrir meu coração novamente. Me permitir ser feliz completamente de novo. Eu só torcia para que Maria tivesse o mesmo pensamento, ela nunca tinha se apaixonado, mas apesar disso e de ser muitos anos mais nova do que eu, ela era decidida, uma mulher direta.
Todos esses quatro anos eu não tinha pensado em namorar outra vez, todas as mulheres que passaram por minha vida depois de Luna foram sobre necessidade e desejo, puramente físico. Mas com ela as coisas estavam tomando outro caminho, não sei o que tinha mudado desde o dia em que a conheci, mas aquela noite do assalto algo aconteceu, quase como se o universo estivesse irado por nos conhecermos há tanto tempo e nunca termos nos aproximado, então ele mesmo resolveu dar um jeito nos forçando a passar um tempo juntos. E eu não estava reclamando, muito pelo contrário, fui sincero com ela quando disse que estava entrando de cabeça nisso e seja o que o universo quiser.