Capítulo 20
1680palabras
2022-04-08 01:28
Cheguei na sala e não havia ninguém. Olhei confusa para minha mãe:
- Onde está minha visita surpresa?
- Pedi que esperasse no seu quarto.
- No meu quarto? – perguntei desconfiada.
Fui até meu quarto e abri a porta. Nicolas estava sentado na minha cama, olhando a capa de um dos meus CDs do TNT.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei.
- Precisava falar com você.
- E... Como encontrou minha casa?
- Lorraine.
- Lorraine? Você ligou para minha prima? Como conseguiu o número dela?
- Pedi para Cadu o número de Rodrigo e Rodrigo me deu o de Lorraine.
- Você fez isso? – perguntei perplexa.
- Querida, posso trazer algo para vocês comerem? Você deve estar com fome e Nicolas também. Já faz um tempinho que ele está aqui. – ela sorriu para ele.
- Não, estou bem, dona Olga.
- Eu estou morrendo de fome. – admiti.
- Como sempre. – disse minha mãe rindo.
- Sim, sempre esfomeada. – ele concordou.
Minha mãe saiu e fechou a porta. Olhei para ele:
- O que você fez com minha mãe?
- Por quê?
- Nunca um garoto, sem ser meu namorado oficialmente, entrou no meu quarto.
- Você mesma já não admitiu que sou perfeito? – ele ironizou.
Revirei meus olhos:
- E convencido.
- Você que me chamou assim.
Retirei a mochila e os tênis e deitei na cama. Eu estava cansada.
- Gosto deste CD. – ele disse.
- Eu também.
- Este eu não conheço. – ele retirou o outro CD do TNT de trás dele.
- Vou colocar para você escutar.
Fui até o aparelho de som e coloquei o CD. Ele prestou atenção na música e disse:
- Conheço a música... Mas não sabia o nome.
- Eu conheço todas as músicas, os nomes, os CDs...
- Só não cante, por favor.
- Bobo. Mas agora, me conte... O que você faz aqui? Por que moveu meio mundo para chegar ao meu quarto numa segunda-feira? Você falou mesmo com Cadu?
- Por que você não foi sábado?
- Eu estava de castigo.
- Poxa, dona Olga parece tão boa gente para ter feito isso com você. Qual motivo?
- Uma longa história. Eu já disse que não tenho uma boa relação com meu padrasto?
- Não... Mas ele me pareceu uma pessoa legal. O que ele fez para você?
- Não é nada do que você pensa... Não gosto dele porque não gosto.
- Faz pouco tempo que eles estão juntos?
- Na verdade desde que eu era pequena.
Ele arqueou as sobrancelhas:
- E você ainda não aceitou isso?
- Não. – admiti. – Parece que ele ocupa o lugar do meu pai, entende?
- Do que seu pai morreu?
- Meu pai não morreu... – falei confusa com a pergunta dele.
- E onde ele está? Você disse que Otto ocupa o lugar dele...
- Ele... Mora em outro Estado.
- Separado da sua mãe?
- Na verdade nunca casaram oficialmente. Ela conheceu ele e me teve com 18 anos. Ele passou a usar drogas e... Acho que não quero falar sobre isso. Você ainda não me contou por que veio.
- Meu pai também é viciado.
Fiquei em silêncio olhando para ele sentado na minha cama, me observando deitada sobre o meu travesseiro. Parecia que ele queria falar sobre aquilo.
- Drogas? – perguntei.
- Álcool.
O encarei. Acho que tínhamos alguns pontos em comum.
- Eu... Não o vejo desde criança. – confessei. – Ele tem uma esposa e dois filhos pequenos agora. Mora em Paraíso.
- Paraíso? Está falando do outro lado do país?
- Sim.
- Bom, dizem que é o lugar mais lindo do país. Como ele foi parar lá?
- Sinceramente, não sei.
- Seria uma boa oportunidade de conhecer o lugar, não é mesmo? E de quebra conhecer sua nova família.
- Que acha que embarcar comigo para outro Estado? – brinquei.
- Quando você quiser. Estou com a mochila pronta. – ele riu.
- Nick... O que você veio fazer aqui? Val?
Ele me olhou:
- Ela simplesmente cortou qualquer possibilidade de ficarmos juntos... Para o resto da vida, eu acho.
- Ela é um pouco grossa às vezes... Eu entendo. E eu já sabia que ela havia dito isso para você.
Minha mãe entrou e trouxe refrigerante com sanduíches frescos.
- Mãe, Nick não toma refrigerante. – expliquei.
- Enfim, você conhece alguém que não toma refrigerante. – ela disse rindo.
- Ele não sabe o que é bom. – falei.
- Pelo contrário... Você não sabe. – ele retrucou.
- Vou fazer um suco para você, Nick.
- Nem pensar, dona Olga. Não sei nem se vou conseguir comer este sanduíche. Realmente não estou com fome.
- Você não pode me fazer esta desfeita. – disse minha mãe. – Coma pelo menos o sanduíche.
- Ok, só o sanduíche.
Ela saiu e fechou a porta.
- Ela faria o suco sem problemas. – eu disse.
- Não quero incomodar.
- Não incomoda.
Comecei a comer. Estava louca de fome:
- Então... Veio em busca de consolo? – perguntei.
- Acho que sim... – ele confirmou.
Coloquei meus pés para cima da cama, me recostando na cabeceira.
- Me conte sobre seu pai. - pedi.
Claro que eu queria falar sobre Val e Cadu. Mas também queria saber a história dele.
- Ele mora com minha mãe... Na mesma casa.
- Você é filho único?
- Sim.
- E o que rola?
- Bem, como eu disse ele é alcoólatra. E isso perturba muito nosso sossego.
- Sua mãe não tem coragem de se divorciar?
- Ela acha que porque ficou com ele tantos anos casada deve aguentar até o fim. E gosta do bem estar que o dinheiro dele lhe proporciona.
- Ele está doente?
- Por azar, não.
- Nossa, você queria que ele morresse?
- Sim.
- Nicolas!
- Lembra que eu disse que não era perfeito?
- Espero que tudo se resolva...
- Não vai se resolver. Vou suportar até um dia ir embora.
- E sua mãe? Vai deixá-la?
- Ela sempre terá lugar onde eu estiver. Mas ele não.
- Isso é triste.
- Pois então... E você acha que tem problemas?
Por um momento ele me fez refletir sobre a minha vida. Acho que eu realmente poderia ser definida como a rainha do drama. Será que eu realmente tinha problemas? Nicolas sim tinha um problema.
- E o que seu pai faz quando bebe?
- Fica agressivo... Por vezes cai sem noção nenhuma pelas ruas, tendo que ser levado para casa por vizinhos ou conhecidos. Sempre diz que vai parar, mas nunca para. Promessas nunca cumpridas.
- Difícil...
- Eu me formo este ano... Minha ideia é ir embora.
- Para onde? Você já sabe?
- Talvez Paraíso. – ele riu. – Sempre ouvi falar de lá.
Eu ri:
- O que você faria em Paraíso?
- Talvez trabalhasse num resort, um hotel, poderia ser um guia turístico...
- Por que Paraíso?
- Coincidentemente seu pai mora no lugar que sonhei conhecer a minha vida toda.
- Jura?
Ele assentiu com a cabeça.
- É muita coincidência. – admiti. – Mas eu não sei se teria coragem de partir para ver meu pai e deixar minha mãe aqui. Ele fez coisas ruins para ela...
- Aposto que ela não gosta quando você bebe.
- Sim... Tem medo de eu ser como ele.
- Eu evito beber... Não que nunca faça isso, mas tento evitar. Nunca fiquei bêbado, por exemplo.
- Deve odiar pessoas bêbadas. – falei.
Ele suspirou:
- Acho que deveria...
Acabei meu sanduíche quando ele ainda não havia chegado na metade do dele. Eu ainda estava com fome. E parecia que ele estava enrolando para não deixar o resto.
- Eu posso comer o resto. – falei.
Ele me olhou:
- Você ainda está com fome?
- Sim.
Ele me entregou e começou a rir. Eu não tinha certeza se ainda estava com fome ou queria ajudá-lo a não fazer desfeita com a minha mãe. Não que ela fosse se importar se ele comeu ou não o sanduíche, mas parecia que ele não queria decepcioná-la.
- Quarto rosa? – ele falou olhando para os lados.
- Aposto que você mexeu nas minhas coisas.
- Um pouco. – ele riu. – Não... Eu não faria isso. Estou brincando.
Meu quarto era branco, mas tinha a parede da porta do banheiro em rosa antigo. Coincidentemente a colcha da cama era rosa com babados, bem infantil. Eu não me importava muito com aquilo. Sequer arrumava minha cama. Era minha mãe ou Otto que faziam aquilo. Eu dormia com três travesseiros, então nenhum era enfeite. Todos eram realmente usados. A janela ampla tinha uma cortina em voil branco com alguns laços rosas. Tinha uma cabeceira em madeira envelhecida e uma escrivaninha com vários livros e cadernos. Era onde eu estudava e fazia minhas tarefas. Metade de uma das paredes era prateleiras com livros. Eu gostava muito de ler. E tinha uma cadeira confortável na escrivaninha. Meu quarto era amplo e bem arejado, embora a janela desse para um pequeno corredor. Mas corria sempre um vento fresco ali. Era longe do quarto de minha mãe e Otto. Nossa casa era nova. Minha mãe e Otto fizeram ela com cada cômodo muito bem planejado. Morávamos anteriormente na mesma rua, mas numa casa emprestada de minha avó.
- Nick...
- Fale.
- O fato de Val não querer mais nada com você, definitivamente... Isso não vai influenciar em você me ajudar com Cadu, não é mesmo?
Ele me olhou e demorou um pouco para responder:
- Se você quiser, não.
Eu o abracei:
- Obrigada...
- Vou ajudá-la... Até o fim.
- Até ele ficar comigo para sempre, não é?
- Que seja!
- Bem, você o procurou para saber o telefone de Rodrigo... E ele falou algo sobre a carta? Afinal, você entregou para ele.
Ele me olhou seriamente e disse:
- Não.